domingo, 29 de agosto de 2010

Senda de Cada Dia

Acordei bem disposta e olhei o relógio. Ele me disse: vai agora, já começou! Eu levantei e vivi o dia inteirinho, cada momento grosso ou insosso. Tomei o café, fiz minhas coisas, cuidei dos assuntos importantes e dos triviais. Falei, calei, andei, morri, renasci, curei, escrevi... Tudo de mais meu eu gravei nesse dia. Quando a lua apareceu meio torta eu planejei: vou mais rápido pra sobrar um tempinho no final. Gosto de me debruçar no parapeito da janela dos fundos e reavaliar todas as minhas gotas de sangue que vão correndo pelo átrio enquanto vejo aquelas máquinas corredoras seguindo pela rodovia como se realmente estivessem fazendo algo vital. É engraçado...
Mas quando cheguei cansada na cozinha o relógio me disse: Agora termina tudo, vai dormir que o dia já se foi.
-Mas já?
-já, não está vendo que ficou tarde?
-E pra onde ele foi?
Isso ele não soube responder.

sábado, 28 de agosto de 2010

Início de Conversa



Quando decidi sair do conforto, foi de caso pensado. Tudo estava me irritando, tudo aquilo que me protegia, que me resguardava de sangrar através de todos os poros. Chega de satisfações externas, de sono conturbado pela falta de profundidade na minha vida. Não queria mais viver. Não queria mais viver para lidar com os problemas de uma realidade que não me completava.
Se fosse para sofrer, então que fosse um sofrimento escolhido, aquele sofrimento que te faz sentir liberto, simplesmente porque você tem a certeza de que ele faz parte do seu ser, está nas suas entranhas, na sua cabeça, contempla as sua razões: ele é seu!
Escolhi o deserto. Uma paisagem intensa, palco de um drama prático, contrasta com o drama interno. Não há luta por qualquer coisa que não seja a própria existência. É mais que sobrevivência. É sobre-humano no sentido de que a necessidade física dialoga diretamente com o espírito e a mente. Ele te diz quem é você sozinho... e diz bem alto.